segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Uma justificada falta de modéstia

Nunca li de cabo a rabo "Direito Razão - Teoria do Garantismo Penal", de Luigi Ferrajoli. Tomei emprestado na biblioteca algumas vezes e li, sim, uma boa parte, registrando algumas anotações em separado. Na verdade, li o quanto a minha consciência aguentou. O bastante para saber que a parte que ficou faltando não poderia jamais redimir a que havia sido lida. Enfim, o suficiente para saber o quanto é dispensável e essencial. Dispensável porque não agrega absolutamente nada em termos de valores e conhecimento - aliás, pelo contrário, desmoraliza e emburrece. Essencial porque muita gente considera essa obra - às vezes sem nunca sequer tê-la manuseado! - a "bíblia" do direito penal contemporâneo. Daí a essencialidade de lê-la e estudá-la para mostrar a quem não a conhece o quanto ela não é nada mais do que "prosopopéia flácida para acalentar bovinos".

Mas não é exatamente isso o que me faz ficar tentado a pecar pela soberba. O que me deixa realmente envaidecido e orgulhoso (perdoem-me pela sinceridade) é o tamanho do bem que fiz hoje à humanidade: comprei um exemplar de "Direito e Razão". Despojei-me de R$148,80 (cento e quarenta e oito reais e oitenta centavos) - incluindo o frete - para retirar de circulação um volume dessa obra. Embora isso pareça um ato banal, trata-se de uma ação quase heróica.

Graças a esse desprendimento, uma pessoa - talvez um inocente estudante de direito - vai ter uma partícula infinitesimal a mais de dificuldade para comprar o livro, e eventualmente prefira comprar algum outro melhor. Se isso ocorrer, terei contribuído para que um aluno tenha tido uma formação um pouco mais hígida. Caso esse aluno venha a ser futuramente um operador do direito penal (promotor, advogado, juiz, delegado...), aí então esse ato heróico e isolado vai multiplicar efeitos. Parafraseando o detetive John Hartigan, interpretado por Bruce Willis em "Sin City"*: uma certa quantidade de dinheiro vai embora; um exemplar de um livro estúpido sai de circulação. It's a fair trade.

*O link leva à reprodução de uma cena forte do filme, que possui classificação indicativa para maiores de 16 (dezesseis) anos.

4 comentários:

Anônimo disse...

Cara, enfim você escreveu algo que presta. Realmente, até esse seu blog é melhor que Direito e Razão.

Hugo Barros.

CONSIDERANDO BEM... disse...

kkkk
Boa Adriano, é quase isso aí!
kkkk
Abraços
F.Zaupa
C.Grande-MS

Michele disse...

Tem interesse em vender o livro?

Adriano D. G. de Faria disse...

Olá, Michele! Eu não tenho interesse em vender o livro, uma vez que embora discorde veementemente dos posicionamentos nele defendidos, preciso de ter a obra justamente para poder consultá-la e questioná-la. Mas sugiro que, assim como eu, você também faça uma boa ação: compre um exemplar, a fim de tirá-lo de circulação! ;-) Abraços. Adriano